quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Utilizando jogos: Xadrez

Prosseguindo em nossa análise de jogos para atendimento psicológico com enfoque nas demandas escolares, estudaremos o Xadrez. Antigo, percebido inicialmente como chato ou jogo para velhos pelos pequenos, depois que aprendem as regras eles ficam fascinados. E elas são muitas. Mas considero o Can can mais complexo que o Xadrez, embora mais fácil de jogar e de ganhar. O Xadrez é tranquilo para se jogar, mas difícil de ganhar.

Jogo tradicional, de tabuleiro e muito estético, um jogo de Xadrez montado é artigo de decoração. O encantamento dos meus alunos começam por aí. Eles respeitam muito aquelas pequenas esculturas. Talvez pensem que não é para eles. Dizem sempre que não sabem jogar e não se arriscam.

Aqui podemos começar a trabalhar a confiança da criança em nós e, em seguida, nela mesma. Como este jogo é considerado típico de intelectuais ou de classe social abastada, nossos alunos consideram-no difícil. Mostramos as possibilidades de usá-lo, ensinamos as regras e elogiamos sempre que acertam para fortalecê-los perante o objeto antes distante.

As regras são quase restritas ao movimento das peças. Os peões movem-se para frente, de casa em casa, exceto pelo primeiro movimento que pode ser duplo, conforme queira o jogador. As torres se movem por quantas casas se desejar, vertical e horizontalmente. Os bispos são movidos também por várias casas, mas na diagonal. A rainha une os movimentos da torre e do bispo. O rei movimenta-se como a rainha, porém casa a casa, como o peão. O cavalo movimenta-se em "L" e é a única peça que salta as outras. O objetivo do jogo é conquistar o rei adversário. Adquire-se as peças do oponente por substituição na casa e não passando-se por cima dela como no jogo de Damas. Se o peão chegar ao final do campo, pode-se solicitar uma peça adquirida pelo oponente de volta ao jogo, em substituição. Há o roque, uma jogada de defesa em que a torre não movida troca de lugar com o rei. No roque não pode haver nenhuma peça entre as duas que se movem. O roque pode ser pequeno e grande, a diferença se dá pela distância entre o rei e a torre. Deve haver mais jogadas especiais como o roque e a troca do peão, porém eu não as conheço e não utilizo com os alunos.

Aqui não é possível o jogo em grupo de alunos. Utilizamos vários tabuleiros e vamos supervisionando. Isto dificulta muito a interpretação dos eventos que surgem durante as jogadas. Entretanto, é possível trabalhar com dois ou três duplas se o objetivo é trabalhar a atenção, a concentração, o planejamento de ação, a previsão das jogadas do oponente, o respeito pelo momento do outro jogar.

Caso seja possível trabalhar com apenas um aluno, é possível provocá-lo com jogadas. A exploração de erros mostra-se como terreno fertilíssimo para interpretações clínicas. Durante o que se mostra como um jogo comum, se transforma na leitura fidedigna do que acontece normalmente na vida da pessoa. Como ele se coloca perante o mundo, como age frete a dificuldades, como lida com a distração dos outros, por exemplo.

Relatei um caso aqui de um aluno que eu quase sempre atendia jogando Xadrez (http://atuarpsicologiaescolar.blogspot.com/2009/09/um-caso-de-indisciplina-grave.html). Mostrei-lhe todos os seus comportamentos equivocados através de movimentos reais durante as partidas. Ele superou sua dificuldade de aprendizagem e seu comportamento infantil e irresponsável foi desvendado para ele mesmo. Assim foi possível avançar em seu desenvolvimento global.

Creio ser o Xadrez o jogo mais poderoso disponível para trabalhar planejamento de ação. É possível perceber quais são as futuras jogadas do aluno, dificultar sua ação, perceber se se distraiu de seu objetivo parcial, se está te distraindo para preparar outra jogada (L. sempre fazia isso, demonstrando sua inteligência e a minha falta de atenção).

Enfim, este jogo é muito frutífero. As estratégias de ação são muito variadas e as possibilidade de interpretação clínica também. Tenho muito sucesso com jogos clássimo.

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